quinta-feira, 20 de maio de 2010

Comentários sobre a "Carta da Terra"

Abordar temas sobre Meio Ambiente requer reflexões muito mais profundas do que talvez as pessoas consigam perceber. Vejo a Psicologia como uma ferramenta fundamental.
Em algumas ocasiões já trabalhei com Educação Ambiental em projetos e vejo que a Psicologia tem um grande papel nessa área, pois mudar o comportamento da humanidade e fazê-la perceber que não adianta só reter a informação, mas sim agir o quanto antes, talvez começando com nossa própria família e ciclo de convivência, é uma tarefa difícil e que exige estudos nessa área.
Podemos ler a Carta da Terra e ficarmos tocados com seu conteúdo, porém a ideologia que dá base a nossa cultura em nossos tempos é baseada no individualismo. A formação do sujeito foi modificando-se no decorrer da história e nesse momento em que vivemos estamos olhando para nós mesmos e cada vez menos pensando no coletivo, que dirá no Planeta como um todo? Grande parte das pessoas têm acesso a informação, sabem o que podemos ou não podemos fazer, mas a escolha de pegar essa informação e tentar mudar nossas atitudes e a maneira de ver as coisas não é tão simples assim.
A capacidade humana de distinguir o que é certo e o que é errado é uma das mais interessantes qualidades que temos a meu ver. O senso moral nos permite fazer escolhas e sermos responsabilizados por elas. A Psicologia pode ser usada como uma ferramenta importantíssima para estudar sobre como está esse sujeito, esse ser humano e como conseguiremos fazer com que ele passe a olhar mais para o Meio Ambiente como um todo, que ele está incluído nesse todo e conscientizar o ser humano de que a união em prol de um bem comum pautada de princípios éticos, de sentimentos altruístas, é a única maneira de proteger nossa espécie e as demais espécies. A cultura também nos influencia em diversos aspectos de nossa personalidade e da maneira que vemos nossa existência neste Planeta, portanto a capacidade de distinguirmos o que é certo do que é errado não quer dizer que temos capacidade de tomar atitudes corretas ao invés de erradas. Uma coisa é saber o que deve ser feito e a outra é fazer o que deve ser feito. Muitas vezes usamos nossa capacidade de raciocínio para driblar a moral e tirar proveito das situações. Muitas vezes pessoas que trabalham com Meio Ambiente não entendem por que não conseguem grandes mudanças já que as coisas que precisamos fazer estão tão óbvias para muitas pessoas. Bom, a guerra é um dos exemplos disso. Um grupo de pessoas justifica o fato de atacar outro grupo e matar pessoas nos tempos de hoje e manipular as notícias e a opinião pública vendendo a imagem de que foi a coisa certa a ser feita. Não existe ética e moral em uma guerra, existe? O que existe são líderes que manipulam e colocam os seres humanos uns contra os outros. É a manipulação moral por uma minoria humana. Ou matar crianças, idosos, enfim, pessoas, justifica alguma causa?
Hoje em dia vivemos o “ter” muito mais que o “saber” e o “ser”. Todos nós já percebemos isso, e ao mudar comportamentos em relação ao Meio Ambiente, antes de tudo devemos rever essa fase em que o ser humano vive, ou seja, “eu tenho”. Se eu tenho, eu pago para que seja assim. Eu faço o que tenho vontade e se precisar pago para reverter, para esconder, para me sentir melhor. Temos que mudar esse conceito, tarefa que não é fácil.Não basta só se pagar pelo que fez ou pelo que usa, pois algumas situações são irreversíveis ou se são reversíveis, são extremamente lentas. Temos tempo para isso?
A questão do individualismo é muito complicada, pois cada ser humano busca o melhor tipo de vida para si ou para sua família, ou seja, desenvolvimento, realização, satisfação, conforto. Qualquer ação que o leve a atingir esses objetivos, para ele será moralmente válida e a natureza, os recursos naturais, até as pessoas em que convivemos, são vistas como: o que elas podem nos oferecer, que benefício eles nos oferecem? É a cultura pós-moderna, o individualismo.
A Carta da Terra apresenta de forma brilhante como podemos reverter a situação que vivemos, que não é somente pensar sobre a natureza e a forma que a utilizamos de forma diferente, mas também pensar sobre a humanidade de forma diferente.
Não podemos esquecer das pessoas e como elas vivem.
Aqui em Foz do Iguaçu, por exemplo, conheço várias pessoas que trabalham no Parque Nacional e que amam esse Parque, se preocupam com ele e sobrevivem por causa dele. Caso essas pessoas tivessem sido colocadas à margem do turismo, se não tivessem trabalho, se não tivessem como sobreviver, não fossem educados, conscientizados sobre a importância do Parque, o que estariam fazendo agora? Será que estariam protegendo, fiscalizando?
Acredito que veriam o Parque Nacional como um inimigo se ele fosse motivo de falta de trabalho e sobrevivência. Portanto, não podemos esquecer quando falamos do Planeta e a preservação das espécies, de lembrar das pessoas que nele habitam e como elas estão. Não podemos desistir do Planeta,mas também não podemos desistir do ser humano. Temos que ter uma visão sistêmica e olhar para esse sujeito e tentar entender o que ele pensa e sente e a partir disso buscar uma mudança interior.
Caso você ainda não tenha lido a "Carta da Terra", dê uma olhada. Vale a pena a reflexão. Abração para todos!

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